19. SANGUE FRIO

(Carlos Tê / Hélder Gonçalves)

 

tu nunca choras ao ver sangue

tu nunca sangras quando sofres

guardas a dor dentro do cofre

 

se alguém decifra o segredo

e se pica no teu ferrão azedo

tu lambes-lhe o sangue do dedo

 

tu nunca choras ao ver sangue

tu nunca ficas transparente

és daquela raça tão rara

que tem no olhar o gelo quente

 

se alguém te atinge o coração

aguentas o baque de frente

e sentes uma oscilação 

 

defendes-te com uma paixão competente

e incarnas tão impunemente

a pele de um animal de sangue quente

que ama a sangue frio

 

tu nunca choras ao ver sangue

tu nunca ficas transparente

és daquela raça tão rara

que tem no olhar o gelo quente

gelo quente

quente e frio